quinta-feira, 10 de maio de 2007

Entrevista - Fajardo: "Mudanças de treinador não prejudicaram a equipa"


O médio-ofensivo da Naval, uma das figuras figueirenses, considera que o rendimento do conjunto não foi afectado pelas três alterações no comando técnico. Analisando a época como positiva, individual e colectivamente, Fajardo, que termina contrato no final da temporada, revela que gostaria de permanecer no clube Figueira da Foz. O ‘camisola 18’ navalista confessa igualmente que ainda sonha com a Selecção Nacional.

Rola a Bola - Como analisa a época da Naval?
Fajardo - Tem sido uma época muito positiva. Depois de na temporada passada termos garantido a manutenção na última jornada, era importante consolidar a Naval na I Liga, visto que esta é apenas a segunda época do clube no principal escalão nacional. Foi isso que conseguimos bastante cedo e, como é claro, foi uma época bastante positiva.
- Tendo assegurado a manutenção bastante cedo, o conjunto figueirense já não vence há oito jogos (desde 4 de Março, em Aveiro). Essa ausência de vitórias poderá estar relacionada com um certo relaxamento da equipa?
- Não, penso que não. Ao longo da época todas as equipas têm um abaixamento de forma numa certa fase e, provavelmente, o nosso apareceu agora. A equipa continua a tentar o que sempre tentou: as vitórias. No entanto, elas, infelizmente, não têm aparecido, mas não por relaxamento. Felizmente para nós e para os navalistas que as derrotas têm aparecido só agora, visto que a manutenção está garantida.
- À partida jogar em casa é uma vantagem. No entanto, no caso da Naval, é curioso que foram somados 14 pontos na Figueira da Foz e 17 fora de portas. Como explica este facto?
- Uma das explicações para esse facto provavelmente passa pela maneira como a nossa equipa se apresenta em jogo: uma equipa forte a defender e extremamente rápida a atacar, pois uma das nossas armas fortíssimas é o contra-ataque. Quando actuamos fora de portas, os adversários actuam maioritariamente em ataque organizado e torna-se mais fácil explorar a nossa maneira preferida de atacar.
- O último triunfo no próprio estádio aconteceu há cerca de cinco meses, a 17 de Dezembro, frente à União de Leiria. Em seu entender, a que se deve este longo jejum caseiro?
- Sinceramente, não sei a que se deve, até porque na minha opinião as exibições em casa têm sido de grande qualidade e temos jogado sempre com o intuito de vencer. Mas, infelizmente, os resultados não têm aparecido. Se eu e o grupo soubéssemos o que de mal se tem feito, provavelmente já tínhamos arrancado o mal pela raiz e voltado ás vitórias. Mas como infelizmente não sabemos, há que continuar a trabalhar como temos feito até aqui e esperar que as vitórias apareçam perante o nosso público.

“NÃO IDA À UEFA? NÃO FOI POR FALTA DE AMBIÇÃO”


- Sente que a Naval é pouco apoiada pela cidade?
- Sim, sinto. Todos sentimos. A Naval, para quem não sabe, é um clube com 114 anos de existência e este é apenas o segundo ano que se encontra na mais alta divisão do futebol nacional. Esse facto devia fazer com que as pessoas da terra se orgulhassem dos jogadores e do clube, manifestando isso Domingo após Domingo… Infelizmente isso não acontece e temos sempre muito pouco público nos jogos, mas, como costumo dizer, é uma verdade que são poucos, mas bons.
- A pouca adesão de público influencia negativamente o rendimento da equipa quando actua no seu reduto?
- Estaria a mentir se dissesse que não. Todo e qualquer jogador gosta de se sentir apoiado e sente-se bastante motivado quando vê o estádio repleto de gente. Não sei se isso tem influência no rendimento da nossa equipa, mas poderá ser um dos motivos.
- A Naval chegou a andar perto do sexto lugar e, consequentemente, do apuramento para a Taça UEFA. Faltou ambição para atingir esse patamar?
- Penso que não faltou ambição. Tínhamos, e temos, a noção de que uma Naval na Europa poderia ser bom para todos, não só para o clube como também para os jogadores. Infelizmente para nós em determinada fase da época, as coisas não nos correram bem e, mesmo praticando bom futebol, as vitórias não apareceram. Mas penso que não foi por falta de ambição.
- A equipa teve três treinadores esta temporada. Pensa que essas sucessivas alterações no comando técnico prejudicaram a prestação do conjunto?
- Não, não prejudicaram. Aqui na Naval, temos um grupo forte e, apesar de termos tido três treinadores, os objectivos de todos mantiveram-se, independentemente do treinador: vencer e pensar jogo a jogo, encarando cada partida como se fosse a última.

“SINTO QUE PODERIA TER FEITO MAIS GOLOS”

- Qual o balanço que faz da época no plano individual?

- Faço um balanço extremamente positivo da época. Fui bastante utilizado e as minhas exibições foram-se reflectindo nos resultados da equipa. Provavelmente, poderia ter feito mais vezes o ‘gosto ao pé’, mas, infelizmente, os golos não apareceram. Porém, a época foi muito positiva.
- Nos 24 jogos em que foi utilizado na Liga, foi substituído em 22 ocasiões. Normalmente um jogador não gosta de ser rendido e quando isso acontece tantas vezes… Aborrece-o?
- Estaria a mentir se dissesse que não. Não é o facto de ser substituído, porque todos os jogadores treinam semanalmente para jogar e, à partida, o treinador faz a substituição porque pensa que vai melhorar o rendimento da equipa. Em algumas vezes, um jogador não está bem e merece ser substituído. No entanto, como você disse, quando isso acontece tantas vezes, ninguém fica contente… Mas temos de saber viver com isso.
- Não obstante marcar presença em quase todos os jogos (falhou apenas quatro), a sua utilização tem sido mais baixa do que nas três anteriores épocas ao serviço do clube. Encontra alguma justificação?
- Não, não encontro justificação. Dou sempre o máximo em prol do clube que represento e isso tem-se verificado nesta época como nas anteriores. Infelizmente, tenho vindo a ser menos utilizado esta época e isso é uma questão que me ultrapassa. O que posso afirmar é que, cada vez que entro em campo, dou sempre o meu melhor.
- Sente que o seu rendimento também baixou esta temporada. Regista apenas um golo (em Setúbal)…
- Não, não sinto que o meu rendimento tenha baixado. É um facto que esta época levo apenas um golo, mas as minhas exibições tem-se pautado pela regularidade e tenho, como sempre, tentado ajudar a equipa. Não posso esconder que também sinto que poderia ter feito mais alguns golos, mas, às vezes, por um pouco falta de sorte a bola não entra. Há que continuar a trabalhar e esperar que futuramente a bola embata nas redes.

“GOSTARIA DE CONTINUAR NA NAVAL”

- Está em final de contrato com a Naval. Pretende continuar na Figueira da Foz?
- Sinto-me muito bem na Figueira. Esta é a minha quarta época na Naval, clube onde passei grandes momentos e onde sou muito bem tratado. Sinto-me como se fosse um filho da terra, pela maneira como sou tratado aqui. É claro que gostaria de aqui continuar porque é um clube onde me sinto muito bem, mas, como se costuma dizer, o futuro a Deus pertence.
- Qual o grande objectivo que tem em termos de carreira?
- O meu grande objectivo em termos de carreira, penso que é o de qualquer jogador: representar a Selecção Nacional. Esse é, a meu ver, o expoente máximo na carreira de um jogador profissional de futebol e, como é claro, eu não fujo à regra.
- O facto de não jogar num designado ‘grande’ não lhe retira essa esperança?
- Costumo dizer, sem qualquer tipo de hipocrisia, que a esperança é a última a morrer. E é verdade. Provavelmente, por não jogar num designado ‘grande’ torna as coisas mais difíceis, mas penso que nós, jogadores, temos de ter sempre um objectivo para nos mantermos sempre motivados. Pode ser um objectivo extremamente difícil, mas não impossível. Como diz o poeta, “o sonho comanda a vida”.

CURTAS

“SINTO MUITAS SAUDADES DE LISBOA”

Fajardo nasceu e viveu na zona da capital até há quatro anos, altura em que ingressou na Naval e se mudou para a Figueira da Foz. Torna-se, pois, natural que sinta falta dessa cidade. “Sinto muitas saudades de Lisboa. Estou há quatro anos fora de casa e, mesmo não estando muito longe, as saudades são muitas. A minha carreira de profissional de futebol decorreu sempre em Lisboa e, como é claro, não estava habituado a estar longe da família, dos amigos, etc…Isso custa um pouco”, confessa o médio-ofensivo.

“NUTRO UM SENTIMENTO ESPECIAL PELO BELENENSES”
Tendo cumprido a formação no Restelo, o futebolista figueirense terminou a ligação contratual, mas não quebrou os laços sentimentais para com o seu antigo emblema: “Nutro um sentimento especial pelo clube, onde estive ligado dos 10 aos 24 anos. Como costumo dizer, foi no Belenenses que me fiz homem, passei lá momentos de grande felicidade. Estranho seria se não tivesse um sentimento especial por aquele clube.” Fajardo congratula-se ainda pela boa carreira da equipa ‘azul’ na presente temporada. “Fico extremamente feliz por eles estarem a realizar uma excelente época”, revela o jogador, que, a 27 de Maio promete vibrar com o jogo do Jamor: “Vou torcer pelo Belenenses na final da Taça. Em criança, estive no Estádio do Jamor na última conquista da Taça pelo Belenenses, ante o Benfica. Ficaria muito contente se isso se repetisse, desta vez diante do Sporting.”

Fotos de jogo: Hugo Santos
Restantes fotos: cedidas pelo jogador

3 comentários:

Bruno Pinto disse...

Pedro, estás-nos a habituar mal! Mais uma magnífica entrevista com um bom valor da nossa liga. Continua assim. Abraço.

Anónimo disse...

Grande Fajardo, coração azul!

Anónimo disse...

Parabéns pelo excelente trabalho neste blog, isto si, é jornalismo de qualidade.

Já agora, deixo uma achega: e que tal um report sobre a serie mais competitiva da 3ª divisão, a serie B...existe um excelente trabalho feito por amadores na divulgação das suas equipas, como por exemplo o Tirsense, o Ermesinde, o Alijoense e claro, o mágico Leça, pelo menos esta serie tem matéria de qualidade para ser trabalhada a nivel jornalistico. abraço