terça-feira, 4 de setembro de 2007

Opinião: O adepto português...

Cada vez mais me convenço de que em Portugal não se gosta de futebol. Não, não digo isto pelo facto de os estádios estarem vazios, porque, face à realidade sócio-económica do País, o preço dos bilhetes é exorbitante. Se os valores fossem mais convidativos, certamente mais gente marcaria presença nos jogos.

Digo que em Portugal não se gosta de futebol, porque gostar dos clubes é diferente de gostar de futebol. No nosso País, a maioria das pessoas gosta do clube A, B ou C, mas não de futebol. Regra geral, os adeptos apenas querem ver o seu clube ganhar domingo após domingo. Isso é o mais importante, nem que seja com um golo marcado com a mão depois de uma exibição medíocre. O importante é ganhar, mesmo que para tal seja necessário ‘arrancar os olhos’ ao adversário.
Falo nesta questão a propósito de dois lances ocorridos nas duas últimas jornadas, com o Sporting como protagonista. Escrevi aqui na altura, e mantenho, que o árbitro errou no lance que decidiu o clássico no Dragão a favor do Porto. Muitos discordam, muitos concordam, sobretudo, como é lógico, os sportinguistas. Dos adeptos leoninos com quem falei sobre essa matéria depois do jogo na ‘Invicta’, não houve um que estivesse de acordo com a decisão de Pedro Proença. Curiosamente, Alvalade assobiou em peso no domingo a decisão de Carlos Xistra por não marcar falta a favor do Sporting, após um corte de Ruben Amorim, que levou Costinha a agarrar a bola, que se dirigia em direcção à linha final. Devo salientar que, em meu entender, nenhum dos lances é passível de sanção, mas no caso do ‘derby’ lisboeta a jogada levanta muito menos dúvidas. Contudo, os que há semana criticaram o facto de o seu clube ter sido punido com uma falta, queriam agora beneficiar de um livre idêntico… E numa situação muito menos duvidosa!
É este o típico adepto português…

Nota – O texto refere-se aos adeptos de determinado clube unicamente como exemplo da ideia que pretendi transmitir num contexto geral. Na minha opinião, e que isso fique bem claro, esta atitude da maioria dos adeptos portugueses abrange todas as cores.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Pedro.
Impressionante este teu artigo. Estou inteiramente de acordo. É difícil compreender certas atitudes das pessoas, que apenas vêm o seu clube à frente! Futebol bonito, que é o que se quer, até pode ser esquecido...desde que os três pontos sejam alcançados.
já tenho tido conversas e até discussões com outras pessoas sobre esse assunto e parece que essa mentalidade não vai desaparecer tão facilmente.
Enfim...pelo menos ficam os resistentes aos pseudo-adeptos, aqueles como eu, os verdadeiros "apaixonados pela bola"!

Continua assim!

Rui Zamith disse...

Só agora tive oportunidade de ler este teu artigo, e é inacreditável como em duas jornadas apenas conseguimos analisar o aspecto de que falas de uma forma tao real e consistente. Ainda bem que estamos no mesmo barco, de debater a isenção desportiva, o desportivismo acima de tudo, algo que existe em tantas outras modalidades (o rugby, por exemplo) e que no futebol se vem desvanecendo por completo!

De facto, se esse facciosismo não fosse suficiente, o descrédito dos dirigentes desportivos resultante de tanta corrupção desportiva, também nos faz por muitas vezes agir de forma pouco isenta por pensarmos que determinado árbitro errou, não por ser um simples ser humano, mas porque por ventura poderá ser corruptível.

O artigo está realmente muito bom.

Abraço,
Rui Zamith