domingo, 1 de julho de 2007

Entrevista - Eduardo Simões: "Vou para a Bulgária para relançar a carreira"

Aos 25 anos, o defesa-central formado nas escolas do Benfica ruma ao Vihren, da Bulgária, na esperança de atingir uma maior visibilidade que lhe possibilite atingir outro patamar na sua carreira. O jogador, internacional nos escalões jovens - excepto nos sub-21, em que foi chamado à Selecção mas não actuou - aguarda com expectativa esta primeira aventura além-fronteiras, longe da família (na foto está com Catarina, a sua cara-metade) e num campeonato diferente.

Rola a Bola - Porquê esta opção de rumar ao estrangeiro?
Eduardo Simões - Foi com o intuito de relançar a carreira e abrir novas portas, uma vez que, cá em Portugal, a aposta dos clubes em jogadores nacionais e jovens é praticamente nula. Vou para uma liga europeia, num país que não é de primeira linha, mas não deixa de ser uma primeira liga, para depois ir ou voltar para uma coisa melhor.
- O que conhece do campeonato búlgaro e do Vihren, nono classificado na última época?
- Da Liga búlgara conheço muito pouco… Conheço as equipas que andam mais pelas competições europeias: CSKA Sofia, Levski, Litex e o Slavia. Sei que, pelo que parece, o Levski contratou o Jimmy [já jogou em Portugal no Campomaiorense e Boavista] e que vão alguns jogadores que jogaram em Portugal para o CSKA, de resto pouco mais sei. Do Vihren sei que o presidente é uma pessoa muito importante e com capacidade financeira, tem casinos e hotéis, e que este ano tem um projecto para alcançar as provas europeias e rentabilizar os jogadores. Estou um pouco na expectativa daquilo que vou encontrar lá.
- O facto de irem muitos portugueses, inclusive o treinador que o orientou no Amora e no Olivais e Moscavide, pesou na sua decisão de aceitar esta aventura?
- Também pesou. Passei muitos anos no Benfica e tive oportunidades para ir para fora e nunca quis, talvez porque passei muito tempo no clube e sempre pensei fazer carreira por lá. No primeiro ano de sénior houve uma hipótese de ir treinar ao Real Madrid B, também houve a possibilidade de ir para a Roménia e para o Pontevedra, mas nunca quis ir. Considero-me uma pessoa que não tem muito espírito de emigrante, mas este ano foi numa situação, se calhar, como última oportunidade. Cá as coisas estão muito difíceis e o facto de irem mais portugueses também pesou, até porque, em teoria, a adaptação será mais fácil.
- Houve recentemente alguns jogadores portugueses que passaram pela Bulgária e regressaram a Portugal de ‘mãos a abanar’. Isso assusta-o?
- Claro que uma pessoa vai sempre de pé atrás e, por isso, é que estou um pouco na expectativa. Penso que isso também estará relacionado com os empresários que tratam dos assuntos, porque há muitos que não são sérios. Se calhar, alguns jogadores não receberam porque alguém ficou com o dinheiro. Já tive situações de colegas que vão para o estrangeiro com uma coisa prometida e depois chegam lá e não é a mesma... No entanto, foi-me garantido, e até porque vão muitos portugueses e o treinador também é português, que não havia problemas e espero que assim seja.

“NUNCA FUI APOSTA NO BENFICA”
Eduardo Simões começou a jogar no clube da Luz aos nove anos de idade e cumpriu todos os escalões de formação vestido de encarnado. No primeiro ano de sénior esteve na equipa B e chegou a estrear-se no principal campeonato português, em 2002/2003, pela mão de Camacho, num jogo em que as ‘águias’ golearam o Vitória de Guimarães por 4-0, com três golos do malogrado Miki Fehér. O vínculo com o Benfica estava a expirar, mas o defesa continuou na Luz com a esperança de ser aposta. Contudo, a realidade foi bem diferente. “Propuseram-me dois anos de contrato, com outro de opção, e prometeram-me que me iriam tentar emprestar a uma equipa da SuperLiga e, se isso não acontecesse, certamente me emprestariam a uma equipa da II Liga. A verdade é que, quase em último recurso, fui parar ao Amora, uma equipa da II B que, alegadamente, tinha um projecto para subir de divisão e acabei por ir à ‘liguilha’ para não descer, felizmente não descemos, e acabei a época com quatro meses de ordenados em atraso. Por isso é que digo que, a nível de jornais e Comunicação Social, as pessoas sempre me viram como promessa, mas não passei disso, nunca fui aposta e essa é a grande verdade…”, lamenta o futebolista.
Em 2004/2005, Eduardo Simões regressou à Luz, mas, novamente, para jogar na formação secundária das ‘águias’, que disputava o Campeonato Nacional da III Divisão, onde foi campeã na sua série: “Fui para a equipa B, trabalhei várias vezes com a equipa principal e ainda fui convocado para dois jogos… Subi de divisão na equipa B, mas o contrato chegou ao fim e os dirigentes, apesar de ao longo do ano me terem dito várias vezes que tinham interesse em renovar, entenderam que não o deviam fazer. Porquê? Não sei… Tenho a minha ideia, mas prefiro não falar sobre isso.”

“TÉCNICOS DO MAFRA MERECEM ESTAR MAIS ACIMA”

Eduardo Simões representou o Mafra, da II Divisão, na última temporada e diz ter encontrado “pessoas fantásticas” em toda a estrutura futebolística do clube. O defesa-central, contudo, destaca o papel dos seus treinadores (Filipe Ramos, ex-jogador do Sporting e campeão mundial de sub-20, em 1989, e Fernando Vieira), a quem não poupa elogios: “Sou suspeito para falar da equipa técnica do Mafra, porque gosto muito deles. São uma equipa técnica que se complementa. O ideal para mim é ser composta por um ex-jogador, como o Filipe, e por um dito professor, embora o prof. Fernando tenha uma visão do futebol diferente daquela que os professores têm. Acho que não merecem estar naquela divisão, merecem estar bem mais acima e espero que alguém lhes dê oportunidade.”

“SUCESSO DE MIGUEL VELOSO NÃO ME ESPANTA”
Na época 2005/2006, o novo jogador do Virhen foi colega de um dos futebolistas mais em foco na actualidade portuguesa: Miguel Veloso. Para Eduardo Simões o êxito do seu ex-companheiro no Olivais e Moscavide não é surpresa: “O sucesso do Miguel não me espanta. Fico satisfeito por o Miguel ter alcançado o sucesso que tem agora, porque ele tem inegáveis capacidades”.
O central considera, porém, que há mais casos idênticos aos do médio sportinguista, só que para isso é preciso que os jovens tenham chances de mostrar o que valem. “O que as pessoas têm que pensar é que o Miguel só é o que é porque alguém lhe deu oportunidade. Como o Miguel há outros que passaram ao lado e há outros que, se calhar, podem ser aquilo que o Miguel é neste momento… Os jovens portugueses são reconhecidamente talentosos e o que falta é a aposta neles. Aqui é, praticamente, impensável um jogador saltar de uma II B para uma equipa da I Liga, quanto mais para uma equipa de topo”, refere Eduardo Simões.

Foto de Miguel Veloso: Hugo Santos

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