segunda-feira, 30 de junho de 2008

Opinião: Olé Espanha!

O Europeu 2008 está concluído. Terminou bem. Foram três semanas de emoções que que tiveram como epílogo uma festa pintada de vermelho e amarelo. A Espanha celebrou, 44 anos depois, a conquista do mais importante troféu do futebol no 'Velho Continente'. Este triunfo é inteiramente merecido, uma vez que a formação orientada por Luís Aragonés foi melhor que todos os antagonistas com os quais mediu forças durante a prova e não sofreu sequer qualquer desaire. O troféu ficou, sem dúvida, bem entregue - algo que não aconteceu em 2004, onde o anti-futebol da Grécia prevaleceu.

Perto de completar 70 anos de idade (a 28 de Julho), Luís Aragonés atingiu o ponto mais alto da sua carreira. Para o treinador mais idoso a vencer um Campeonato da Europa, agora vitoriado graças ao sucesso, o sabor desta conquista é ainda maior. O treinador campeão europeu foi, nos últimos meses, alvo de críticas constantes de 'nuestros hermanos' nos mais diversos aspectos, mas sobretudo pelo facto de ter deixado Raul em casa. O certo é que a Espanha não precisou de Raúl e, sinceramente, acho que o experiente jogador do Real Madrid não tinha 'pedal' para Villa, Torres e Guiza. Aragonés parte agora tranquilo, estado de espírito que poucas vezes sentiu na selecção espanhola, rumo ao Fenerbahçe, com o título europeu no bolso e o reconhecimento de uma nação ávida de conquistas durante anos a fio. A missão do técnico ficou, pois, mais que cumprida e muitos detractores tiveram que engolir em seco.

A Espanha manteve nesta competição a sua matriz de jogo habitual, baseada na técnica dos seus jogadores e na mentalidade ofensiva, embora com uma 'pequena grande' alteração. Sem deixar de lado a parte emotiva, os espanhóis utilizaram, desta feita, muito mais a parte racional. Ao contrário do que sucedeu em ocasiões anteriores, a Espanha foi uma equipa muito mais equilibrada do ponto de vista emocional. O confronto diante da Itália espelha isso mesmo: mais cabeça, menos coração. Os pupilos de Aragonés perceberam claramente que os jogos duram, pelo menos, 90 minutos e que não é imperioso resolvê-los em 45. A paciência também faz parte de um desafio de futebol...

As estatísticas nem sempre revelam com exactidão aquilo que é e vale uma equipa. Mas, neste caso, penso que estes dados atestam bem da qualidade e do estilo de jogo da equipa espanhola: maiores valores médios nos remates efectuados e na posse de bola e menores no número de remates consentidos. Está encontrada a simples resposta para o facto de a Espanha marcar tantos golos e sofrer tão poucos: a elevada percentagem de posse de bola. Com a bola nos seus pés, os habilidosos espanhóis não só poderiam criar mais lances ofensivos passíveis de finalização, como igualmente impediam que os opositores o conseguissem. E, quando o conseguiam, tinham pela frente Casillas, na minha opinião, o melhor guarda-redes da competição e da actualidade.



Estes são alguns factores que ajudam a explicar o motivo pelo qual a Espanha foi melhor. Mas há mais, mesmo exteriores à esfera do Euro'2008. O trabalho nos escalões de formação teve igualmente um papel importante nesta conquista espanhola. Se prestarmos atenção ao historial da selecção espanhola na formação na última década, nós, portugueses, 'roemos os dedos de inveja': 1 Campeonato e 1 Vice-Campeonato Mundial sub-20, 4 Campeonatos da Europa de sub-19, 3 Campeonatos e 2 Vice-Campeonatos da Europa de sub-17. Realmente impressionante!

Da lista de 23 convocados por Aragonés para o Europeu, dez jogadores sabem o que é saborear um título com a camisola nacional - e neste caso falo somente no escalão júnior... Casillas, Marchena e Xavi foram campeões do Mundo de sub-20 (1999), Iniesta, Fernando Torres e Sérgio Garcia (2002), Sérgio Ramos, David Silva, Raúl Albiol e De la Red (2004) sagraram-se campeões europeus de sub-19.

"De pequenino se torce o pepino", costuma dizer-se na gíria. Fazendo a tradução desta expressão popular para o 'futebolês', deve dizer-se "os jogadores devem estar habituados a ganhar desde cedo". É isso que acontece actualmente em Espanha, onde os futebolistas adquirem hábitos de conquista com a camisola do país desde tenra idade. O espírito ganhador e a crença na equipa devem ser incutidos aos atletas nos escalões de formação de uma selecção nacional com ambições elevadas. Os frutos serão colhidos mais tarde. Ninguém tenha dúvidas que é mais fácil ganhar quando se tem esse espírito no 'sangue'. Transformar perdedores em campeões é muito mais complicado!

Por fim, quero apenas frisar que esta Espanha é uma selecção promissora. Do lote presente no Europeu, 15 jogadores chegarão ao Mundial'2010 ainda na 'casa' dos 20 anos (Casillas, Reina, Sérgio Ramos, Albiol, Navarro, Arbeloa, Iniesta, Fabregas, Cazorla, Xabi Alonso, De la Red, David Villa, Fernando Torres, Sérgio Garcia e David Silva) e três terão 30 anos certinhos (Marchena, Xavi e Guiza). A vitória no Europeu pode ser apenas o primeiro êxito de uma brilhante geração de futebolistas do país vizinho. O futuro encarregar-se-á de responder...

Foto: Hugo Santos

Nota: Este texto foi publicado na minha crónica semanal no blog "fintaeremata.com". Entretanto, vou estar uns dias ausente da escrita, regressando no fim-de-semana. Abraço a todos os visitantes.

2 comentários:

Jotas disse...

Caro companheiro, confesso que já tinha saudades de visitar este espaço.
Realmente concordo que a Espanha foi sem dúvida um justo vencedor deste Europeu, uma equipa jovem, com muita personalidade, recheada de jogadores de grande classe e outros trabalhadiores e ainda alguns que pra mim forma uma autêntica surpresa, Senna e Carzola, dos quais confesso não tinha grandes referências.
A Espnha ao contrário da nossa selecção, é composta por uma equipa, sem protagonistas individuais, nós portugueses em palvras somos sempre muito bons, os nossos jogadores os melhores do mundo, mas no campo, falta muita humildade e afinal os nossos jogadores não são assim tão bons como alguns jornalistas e comentadores da nossa praça uerem fazer crer.

Anónimo disse...

Luis Aragonés, el Sabio de Hortaleza