
O homem que deu o único título europeu ao PSV Eindhoven, à custa do Benfica, em 1988, e a Taça Intercontinental ao Real Madrid, em 1998, apesar da curta estadia no Santiago Bernabeu, volta a fazer furor ao comando de uma selecção.
Nos últimos três Mundiais, Hiddink conseguiu dois quartos lugares, com a Holanda (1998) e com a Coreia do Sul (2002) e cometeu ainda a proeza de apurar a Austrália, 32 anos depois, levando os 'cangurus' aos oitavos-de-final do Mundial 2006, onde apenas baquearam ante a Itália, que viria a sagrar-se campeã, através de um 'penalty' inexistente nos descontos.
Como se vê, para este holandês os resultados aparecem praticamente sempre, mesmo sem ter 'Maradonas' ao seu dispor. O trabalho mental e táctico que desenvolve, permite a Hiddink transformar um conjunto menor, num grupo capaz de fazer suar, e até levar vencidas, algumas potências do futebol. Espanha e Itália, por exemplo, já sentiram na pele, a organização e a estratégia do holandês.
O espírito aventureiro deste 'globetrotter' do futebol levou-o a ter a Rússia como derradeiro destino. Tradicionalmente composta por jogadores de boa qualidade, a selecção deste país do Leste andava nas 'ruas da amargura'. Depois do desmembramento da União Soviética, a Rússia nunca conseguiu atingir uma segunda fase de uma grande competição internacional. Nos Mundiais de 1994 e 2002, os russos ficaram pela fase de grupos, não marcando sequer presença nos Campeonatos do Mundo de 1998 e 2006. Já em Europeus, não conseguiram a qualificação em 2000 e não foram além da fase de grupos em 1996 e 2004.
Tendo em conta os resultados recentes desta selecção, a tarefa não iria ser fácil para Hiddink. Nada que o assustasse, uma vez que também não havia encontrado facilidades na Coreia e na Austrália. Ainda assim, desta feita, o técnico holandês tinha uma enorme vantagem em relação às experiências anteriores em selecções estrangeiras: os recursos, humanos e materiais, à sua disposição eram consideravelmente de maior qualidade.
O futebol russo vive actualmente a sua melhor fase. Financeiramente, o campeonato da Rússia apresenta, ao contrário de outras ligas com maior reconhecimento internacional, grande fulgor.
Os primeiros sinais de sucesso aconteceram com a conquista da Taça UEFA pelo CSKA de Moscovo, em 2005, no Estádio de Alvalade, frente ao Sporting. Para muitos esse foi considerado um êxito isolado, mas, volvidos três anos, o Zenit provou que não. A equipa de São Petersburgo venceu, 'sem espinhas', a segunda mais importante prova europeia de clubes, destronando equipas como Villarreal, Marselha, Bayer Leverkusen, Bayern de Munique e Glasgow Rangers. O Zenit ganhou a admiração dos adeptos do 'Velho Continente' e, curiosamente, tem ao leme Dick Advocaat, também oriundo do 'país das tulipas'.
Num futebol com um enorme potencial, recheado de jovens talentos e em ascensão no panorama internacional, Hiddink tinha como meta criar uma equipa e conduzi-la ao Europeu, num grupo onde Croácia e Inglaterra eram adversários de peso. E não facilitou: com mérito, e também alguma sorte à mistura, os russos conseguiram o segundo lugar do agrupamento e deixaram os ingleses a ver o Euro pela televisão.
Nesta caminhada que ainda dura, o treinador holandês definiu o 4-1-4-1 como esquema de jogo, assente num modelo que privilegiava a posse de bola, a mobilidade colectiva, a rapidez na transição de processos ofensivos-defensivos (velocidade na procura de espaços ofensivos e no preenchimento dos espaços defensivos) e na elevada capacidade técnica individual dos jogadores.
Fazendo uso dos princípios atrás mencionados, a Rússia tem encantado neste Europeu. A derrota inicial com a Espanha, por números exagerados, não esmoreceu a equipa, que partiu para três vitórias consecutivas, rumo, para já, às meias-finais. Até a tão propalada 'laranja mecânica' da Holanda sucumbiu às garras do 'traidor' compatriota. A qualidade do seu jogo e a sua mentalidade ofensiva (equipa mais rematadora da prova e que dispôs de mais cantos) constituem pontos de atracção para qualquer aficionado da modalidade.
A Rússia de Hiddink é muito mais que um conjunto repleto de individualidades como Akinfeev, Zhirkov, Semak, Arshavin ou Pavlyuchenko, entre outros; ultrapassa a soma de valores individuais; é uma verdadeira equipa e que, sinceramente confesso, me dá prazer ao ver jogar como há muito não sentia. Após a má surpresa grega em 2004, torço agora por esta agradável surpresa russa, que tem, indiscutivelmente, o futebol da moda neste Europeu!
Para finalizar, deixo apenas uma questão no ar: Será que Hiddink falava coreano ou russo quando assinou pelas respectivas federações? Para bom entendedor...
Foto: Hugo Santos
Nota: Este texto foi utilizado na minha crónica semanal no blog "fintaeremata.com"
2 comentários:
Pedro, excelente texto, tens de fazer mais colunas de opinião deste tipo aqui para o teu blog.
A respeito da Rússia e do seu técnico Guus Hiddink, já tudo foi mais ou menos dito e escrito. O técnico holandês é extremamente competente, tacticamente muito inteligente e que já fez, no passado, fantásticos trabalhos, quer em clubes, quer em selecções.
Espero que a Rússia derrote a Espanha e seguidamente se sagre campeã europeia. E aquele Arshavin... que grande craque!! E o Zhirkov vem logo a seguir.
Boas Pedro, tenho que admitir que já ha bastante tempo que nao vinha ao teu blog, mas mais uma vez eu me pergunto, porque nao está um jornalista como o Pedro empregado? Pois tamos num país que funciona principalmente por CUNHAS...
Bom, realmente nunca pensei que Guus Hiddink tivesse tido um historial como o que têm... Penso que merece uma oportunidade numa equipa que lhe dêm condiçoes para treinar à sua maneira, e uma equipa capaz de ir longe no mundo do futebol...
Mas pormeto voltar mais vezes a ver o teu blog. Abraço
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