sexta-feira, 9 de março de 2007

Entrevista - Diogo Luís: “Sabe a pouco lutar pela manutenção”


Foi o primeiro futebolista lançado por José Mourinho. Titular no Benfica pela mão do ‘Special One’, o lateral-esquerdo deixou de ser aposta na Luz, após a saída do técnico que nele depositou confiança. Após passagens por Alverca, Beira-Mar e Naval, Diogo Luís representa o Estoril desde a época passada, onde foi um dos pilares na permanência da equipa na Liga de Honra.

Rola a Bola – O Estoril ocupou os primeiros lugares da tabela no início da temporada, mas actualmente está no décimo posto da Liga de Honra. Como analisa a carreira da equipa?
Diogo Luís – Está a ser uma época irregular: começámos bem, mas agora estamos a passar por um período mais negativo. No entanto, penso que vamos dar a volta por cima e subir na tabela.
- A equipa já não vence um jogo desde 17 de Dezembro. No total, são sete jogos sem vencer: seis jogos no campeonato e um na Taça. O Estoril é um conjunto em crise?
- Não, penso que não. Penso que alguns erros dos árbitros nos têm prejudicado, como por exemplo no último jogo contra o Leixões. Para além disso, temos pecado na finalização, até porque não temos sofrido muitos golos, mas penso que esse aspecto da concretização, também com um pouco de sorte, vai resolver-se.
- Depois do bom começo de temporada, lutar somente pela manutenção sabe a pouco?
- Claro que sim. Nós somos ambiciosos, desejamos sempre lutar para subir de divisão e alcançar o melhor para nós e para o clube. Neste momento, sabe a pouco, até porque já estivemos nos primeiros lugares, mas as coisas aconteceram desta forma e agora há que pensar em ganhar jogo a jogo, para atingir a melhor classificação possível.
- Com seis pontos de vantagem para a ‘linha de água’, a manutenção ainda não está assegurada. Pensa que estes dois próximos jogos, ambos na condição de visitado, diante de Feirense e Portimonense, são fundamentais para o Estoril garantir a tranquilidade?
- São jogos determinantes para voltarmos a um ciclo positivo, assegurarmos essa tranquilidade e para depois rubricarmos exibições com mais qualidade, proporcionando melhores jogos de futebol aos adeptos.

“Tenho correspondido às pretensões do treinador”


- Na pretérita temporada acabou por ser uma das ‘peças-chave’ na manutenção da equipa, tendo realizado 27 partidas no campeonato. Esta época, em 20 jornadas, apenas jogou em nove. Em seu entender, a que se deve essa escassa utilização?
- São opções do treinador. Eu continuo a trabalhar da mesma forma, como sempre fiz, e desempenhando qualquer posição que o técnico entenda que deva desempenhar. Não posso responder ao porquê de não jogar tão regularmente, porque tenho treinado bem e, sempre que fui chamado, tenho correspondido às pretensões do treinador. Por isso, só ele o poderá dizer.
- Sente-se injustiçado por Litos [técnico do Estoril]?
- Não, até porque tenho um colega que respeito e não posso dizer que me sinto injustiçado. Sei que dou o melhor de mim e sei o que posso fazer… Tenho a minha opinião sobre se devia ou não ter feito mais jogos, mas por respeito ao meu colega não vou revelá-la.
- Nas camadas jovens do Benfica chegou a actuar na esquerda e no centro do meio-campo, mas mais tarde fixou-se como defesa-lateral esquerdo. Contudo, face às limitações do plantel ‘canarinho’, na época passada experimentou a posição de defesa-central. Como se sentiu nesse papel?
- Senti-me bem. O primeiro jogo foi o mais complicado, mas depois adaptei-me facilmente, pois percebi quais eram os conceitos para jogar naquela posição. A partir daí, acho que já jogava com naturalidade nessa posição e quem visse os jogos até podia pensar que sempre fui defesa-central.
- Considera-se um polivalente?
- Acho que, em virtude de compreender bem o jogo, consigo adaptar-me a qualquer posição.
- O seu vínculo com o Estoril expira no final da época. Já foi abordado no sentido de uma renovação contratual?
- Não, ainda não.
- Gostava de continuar?
- É uma hipótese que se pode pôr. Quero o melhor para mim, vou esperar pelas propostas e depois ver-se-á o que acontece.

“Voltar ao primeiro escalão é o objectivo”


- Foi o primeiro jogador a ser lançado por José Mourinho. Foi uma grande surpresa para si a chamada à formação principal do Benfica?
- Na altura, foi. Lembro-me que da equipa B já todos tinham ido treinar à equipa principal e, quando chegou o José Mourinho, eu era o único que ainda não tinha ido. Ele chamou-me a um treino e ia convocar-me para um jogo da Taça UEFA, mas como tinha o telemóvel sem bateria… Fiquei um pouco chateado com a situação, mas treinei bem no treino seguinte e ele disse-me logo que ia ser titular no próximo jogo. Fiquei um pouco surpreendido, pois jogar a titular só com um treino… Além disso, também fiquei surpreendido porque acho que fui o primeiro jogador das camadas jovens que subiu à equipa principal e jogou logo como titular.
- Era titular no Benfica e internacional sub-21. Pensa que se José Mourinho não tivesse saído do Benfica naquele momento, a sua carreira poderia atingir outro patamar? Até porque o futebol português apresenta um claro défice na sua posição…
- Isso é entrar um pouco no campo das suposições. Mas vendo as coisas por esse prisma, se José Mourinho tivesse continuado e mantivesse a aposta em mim, se calhar, poderia ter chegado mais longe; com ele, talvez a classificação do Benfica nesse ano também fosse diferente… Nesse sentido, as coisas poderiam ser todas diferentes, mas, como são só suposições, acho que não vale a pena falar disso agora.
- Qual o seu objectivo em termos de carreira?
- Continuar a jogar, continuar a gostar daquilo que faço, tentar chegar o mais longe possível e voltar ao escalão principal. Gosto de projectos ambiciosos, porque sou uma pessoa ambiciosa.
- Uma aventura no estrangeiro era algo que o seduzia?
- Penso que sim, mas tinha que ser algo com ‘cabeça, tronco e membros’. Tinha que ser um projecto ambicioso e no qual me sentisse útil, porque sei que não é fácil estar no estrangeiro, sem o apoio da família, dos amigos e num país com uma língua diferente.


Um doutor no futebol

Diogo Luís é um exemplo para todos os desportistas que almejam atingir a profissionalização, mas não descuram os estudos. O jogador, de 26 anos, concluiu o curso de Economia em Janeiro. “O curso é mais uma ‘arma’ que tenho. Se no futebol não se proporcionar nada bom para mim e para a minha família, é uma possibilidade para desempenhar outras funções e seguir outra carreira”, revela o jogador ‘canarinho’.

Seis meses no desemprego em 2004

“Foi um período muito complicado, em que até andava com muito mau humor. Mas é natural, sempre joguei futebol e vi-me, de repente, privado de jogar… Treinava sozinho, corria todos os dias... Depois, acabei por dar a volta, apareceu a Naval e tudo voltou ao normal.”

Curtas do passado

Mourinho – “É o maior (risos). É um especialista, o melhor treinador do Mundo, sem dúvida.”
Benfica – “É o maior clube português e um dos maiores do Mundo.”
Alverca – “Foi uma experiência.”
Beira-Mar – “É um bom clube, agradável. Gosto do Beira-Mar e gostava que atingisse outra dimensão: que se estabelecesse na I Liga e talvez alcançasse a Europa, porque acho que é um clube que merece.”
Naval – “É um clube familiar, também agradável. Mas não é um clube como o Beira-Mar, que tem uma cidade [Aveiro] à volta que apoia muito o futebol. É um clube mais isolado na cidade [Figueira da Foz].”

1 comentário:

Anónimo disse...

Lembro-me de o ver jogar no Benfica, mas não fazia ideia onde jogava agora. Mais uma promessa perdida e logo defesa esquerdo!