Filho de pais portugueses,
Márcio Vieira nasceu em Andorra e veio para Portugal aos 12 anos. Aos 15 entrou nos juvenis do Marco e no ano seguinte já integrava os seniores do clube. Por lá permaneceu até aos 21 anos, ingressando depois no futebol espanhol. Pelo meio, tornou-se internacional por Andorra, a 12 de Outubro de 2005, frente à Arménia. Organizador de jogo da selecção andorrenha, Márcio Vieira soma 17 internacionalizações. Fique a conhecer agora a curiosa história deste médio de 23 anos.
Rola a Bola – Fez a sua formação no Marco, no qual chegou à equipa sénior com apenas 16 anos. Contudo, e apesar de ser considerado uma promessa, nunca conseguiu impor-se no clube. O que falhou na passagem pelo Marco?Márcio Vieira - Comecei a jogar no Marco com 15 anos, estive um ano nos juvenis e no ano seguinte subi à primeira equipa, que disputava a II Divisão B e subiu à Liga de Honra. Foi nessa época, 2001/2002, que tive a minha oportunidade, através do ‘mister’ Bruno Cardoso, com apenas 16 anos. Faltou-me sorte, porque apostaram cedo em mim, mas nunca deram o valor suficiente às camadas jovens e depois estive alguns anos a jogar muito pouco.
- Considera-se vítima da preferência dos dirigentes portugueses pelo mercado estrangeiro?- Não é bem isso. Mas a verdade é que o Marco sempre deu valor ao que vinha de fora e nunca ao que tinha. Ainda assim, é um clube que sinto muito, ao qual dou valor e estou bastante triste pelo que lhe aconteceu [extinção do futebol profissional].
- Durante o período que representou o Marco, houve hipóteses de sair?- Houve muitas vezes, só que nunca me deixaram sair. Depois, acabava por jogar pouco. Por isso é que digo que perdi lá muito tempo, pois um jogador novo tem que jogar. Só joguei com regularidade nos últimos seis meses no clube.
“GOSTAVA DE PERMANECER EM ESPANHA”- Depois rumou ao Ibiza, da III Divisão espanhola. Qual o motivo que o levar a escolher essa opção?
- Tinha algumas opções, mas o projecto do Ibiza impressionou-me. Tinha clubes interessados em Portugal, mas os clubes estão muito mal em termos financeiros. Aqui, em Espanha, a realidade é bem diferente, muito, mas mesmo muito, melhor.
- Como foi a adaptação a Espanha?- No início custou um pouco a adaptar-me, sobretudo devido à distância da minha namorada, mas depois tudo correu bem. Desportivamente foi muito bom e consegui outra subida de divisão.
- Ingressou então esta época no Teruel, outro clube da III Divisão…- Sim, porque é um clube com história aqui em Aragão, tem um projecto para subir e o treinador mostrou-se muito interessado em mim. Não me arrependo nada de ter vindo para este clube. As coisas estão a correr bem individual e colectivamente: estou a jogar bem e a equipa está nos lugares de cima, pronta a discutir a subida nos ‘playoff’.
- Qual o seu objectivo em termos de carreira?- O meu objectivo é trabalhar todos os dias para subir. Gostava de permanecer em Espanha e, um dia mais tarde, acabar a minha carreira em Portugal.
- Um regresso a Portugal mais cedo não está nos seus planos?
- Não digo que não possa regressar, mas, para isso acontecer, tem que ser uma coisa certa e melhor do que a que tiver no momento.
“JOGAR POR ANDORRA FAZ-ME CRESCER”
- Antes de ser chamado para representar Andorra, pensava nessa possibilidade?- Sim, porque sabia que eles me tinham observado. No entanto, antes só queria estar bem no Marco e nem pensava nisso.
- Como reagiu quando foi chamado à selecção?- Estava no Marco quando foi a minha primeira convocatória, no primeiro dia de trabalho da época 2005/2006. Recebi uma chamada do seleccionador de Andorra a dizer que estava convocado para os jogos com a Roménia, Holanda e Finlândia. Fiquei muito feliz, mas o pior estava para vir, porque no dia seguinte tive uma lesão e fiquei parado quatro meses. Só pude, por isso, estrear-me mais tarde, contra a Arménia, no último jogo da qualificação para o Mundial 2006.
- Sente-se mais português ou andorrenho?- Foi uma enorme emoção ouvir o hino de Andorra, pois sinto-o muito. Mas, na verdade, sou ‘meio-meio’, pois tanto sinto Andorra como Portugal.
- A selecção de Andorra é amadora e tem um nível muito baixo, mas permite-lhe jogar contra algumas estrelas do futebol internacional. Sente que esse facto tem contribuído para a sua evolução?- Sim, muito. É bom jogar contra esses grandes jogadores e em estádios como Old Trafford, com 65 mil pessoas nas bancadas… São momentos para recordar e que me fazem crescer como jogador.
“GERRARD É IMPRESSIONANTE”
Ao serviço de Andorra, Márcio Vieira já defrontou alguns nomes sonantes do futebol internacional, como Hleb, Pandev, Eduardo da Silva, Benayoun, Lampard ou Rooney, entre outros. No entanto,
Steven Gerrard foi o jogador que mais impressionou o médio do Teruel.
“É um jogador completo, faz tudo. Defende, ataca, chuta e está em todo o lado. Foi engraçado porque em Old Trafford a minha missão era marcar o Lampard, mas, a dado momento, o treinador mandou-me marcar o Gerrard e aí vi que ele é realmente fantástico”, refere Márcio.
PERFIL
Trata-se de um médio polivalente, capaz de desempenhar várias funções no meio-campo, sobretudo as posições 6 e 8. Jogador trabalhador e de espírito colectivo, Márcio Vieira é um organizador de jogo que se evidencia mais pelas assistências do que pelos golos.
Fotos: Hugo Santos