sexta-feira, 27 de abril de 2007

Entrevista - Marco Paulo: "Sempre acreditámos no nosso valor"


Apontado como um dos candidatos à descida, sobretudo depois de um mau começo de época, o Estrela da Amadora não quebrou. Deu a volta por cima e tem presença garantida na Liga da próxima temporada. Nesta entrevista, o influente médio Marco Paulo analisa a carreira da equipa, o seu desempenho individual e expõe algumas das ideias que tem para o seu futuro ligado ao ‘desporto-rei’.

Rola a Bola – Ainda que não esteja já a salvo matematicamente, o Estrela da Amadora, com a vitória sobre o Boavista, ficou nove pontos acima da ‘linha de água’ a quatros jornadas do final. Sente que a permanência está garantida?
Marco Paulo – Sabemos que esta vitória sobre o Boavista foi importante, porque nos dá, realmente, uma vantagem bastante confortável. Em 12 pontos possíveis, temos nove de vantagem e só mesmo um descalabro nos impediria de assegurar a manutenção. Para isso acontecer, tínhamos que não fazer pontos e os outros conseguirem vitórias em, praticamente, todos os jogos, o que será difícil. Por isso, esta vitória deu-nos, praticamente, a permanência.
- Nas sete primeiras jornadas, a equipa ‘tricolor’ apenas havia somado um ponto. Normalmente um conjunto nestas condições regista uma quebra anímica e a recuperação torna-se difícil. O Estrela conseguiu-a. A que se deve essa subida de rendimento?
- Acho que houve vários factores, mas o principal talvez tenha sido o facto de os jogadores terem acreditado sempre no seu valor. Para além disso, as pessoas que nos rodeiam também manifestaram sempre a sua crença e o seu voto de confiança em nós. Depois, o aparecimento das vitórias, especialmente quando passámos a jogar na Reboleira [os primeiros três jogos caseiros foram em casa emprestada], deu-nos confiança para encarar o futuro de uma forma positiva.
- Até que ponto o apoio que a direcção concedeu à equipa técnica nesse momento complicado teve peso na subida do Estrela na tabela?
- A direcção acreditou na equipa técnica e em nós. Deu tempo para que o trabalho que vínhamos desenvolvendo começasse a dar frutos e penso que foi isso que aconteceu.
- O que normalmente não acontece em Portugal…
- Há a procura do resultado no imediato e, muitas vezes, não se dá tempo para que as coisas comecem a engrenar. Com muitos jogadores novos, tem que haver um conhecimento uns dos outros para que as coisas aconteçam.

“NÃO SOMOS UMA EQUIPA MUITO OFENSIVA”

- O Estrela recuperou, registando uma série de nove encontros sem perder, mas viria a passar, novamente, por uma fase em que não saboreou um triunfo durante cinco partidas consecutivas. Como explica esta irregularidade da equipa?
- Tivemos uma série boa, a equipa não mudou os jogadores e manteve praticamente a mesma estrutura. Depois, talvez existam dois factores que tenham influenciado a entrada numa fase menos boa: a mudança de estrutura e, se calhar, um certo relaxamento dos jogadores, por pensarem que naquela fase eram só vitórias.
- Dos 28 pontos conquistados pela equipa amadorense, 22 são caseiros e apenas seis foram conquistados em reduto alheio. Quais as razões para tamanha discrepância de rendimento entre os jogos em casa e os realizados fora de portas?
- Se calhar, o factor casa resulta mesmo em termos psicológicos ou então devido ao facto de o nosso campo ter algumas características próprias. Talvez seja isso que nos leve a obter bons resultados em casa. Conseguimos apenas uma vitória fora e alguns empates, nos quais poderíamos ter conseguido ganhar alguns, pois estivemos em vantagem. De qualquer maneira, penso que isso pode explicar-se pelo facto de o nosso campo ter algumas características especiais.
- Até porque os adeptos não costumam marcar presença em grande número…
- Sim, tanto em caso como fora são poucos, infelizmente. Quem é da Amadora, normalmente, é do Benfica ou do Sporting e só depois é que é do Estrela. É sempre um clube secundário nesse aspecto.
- Com 20 golos marcados, o Estrela é o terceiro pior ataque do Campeonato. Acha que se trata de uma equipa pouco vocacionada para atacar?
- Sim, penso que o Estrela não tem um pendor atacante muito acentuado nos jogos. É uma equipa que vale pelo seu conjunto, que procura defender bem e depois tentar marcar. Temos muitos resultados de 1-0 e, realmente, não somos uma equipa muito ofensiva.

“DAÚTO FOI O PRINCIPAL FACTOR DA MINHA VINDA PARA O ESTRELA”

- A sua vinda para o clube da Reboleira está relacionada com o facto de encontrar Daúto Faquirá, seu treinador na temporada transacta ao serviço do Estoril?
- Sim, sem dúvida. O Daúto quis que viesse para o Estrela, apesar de na época passada já terem havido algumas conversas com o clube que, no entanto, não acabaram em contratação. O Daúto foi o principal factor, apesar de haver opiniões favoráveis do presidente e de alguns jogadores que já me conheciam.
- Fez 21 jogos para o campeonato e apontou um golo, falhando apenas cinco embates, devido, sobretudo, a impedimentos por lesão. Qual o balanço que faz da temporada em termos individuais?
- Penso que a época está a ser positiva para mim. Um dos objectivos que tinha era fazer o maior número de jogos possível e o número de jogos que fiz é positivo. Em termos exibicionais, as actuações também foram positivas.
- Está prestes a completar 34 anos, mas revela uma frescura física capaz de fazer inveja a um jovem jogador. Qual o seu segredo?
- Penso que isso já faz parte da minha estrutura física, mas também tenho uma vida cuidada e não cometo grandes excessos. Não há nenhum segredo. Não há nenhuma erva nem nada! (risos)

“NÃO QUERO SER TREINADOR NOS PRÓXIMOS ANOS”

- Tem mais um ano de contrato com o emblema ‘tricolor’. O que pensa fazer depois?
- Não sei. Nunca tenho feito grandes planos a longo prazo. Agora o objectivo é tentar manter o ritmo que tenho tido em termos de jogos, ser titular e fazer o maior número possível de jogos. Depois, logo se verá, como vou acabar a próxima época. Não tenho planos de acabar hoje ou acabar amanhã. Vou jogando e vou vendo.
- Viveu uma curta experiência como treinador-jogador na pretérita temporada no Estoril, fruto das circunstâncias. Ser técnico é algo que pretende fazer futuramente?
- Como prioridade, não quero ser treinador, pelo menos nos próximos anos. Talvez continuar ligado ao futebol, mas como treinador, para já, não é um objectivo.
- Pretende manter-se ligado de que forma?
- Para já, a jogar enquanto puder. Depois, a seguir, estar num clube, mas não com as funções de técnico principal. Talvez começar pelo futebol juvenil, atrai-me mais do que, propriamente, entrar no futebol profissional ou no futebol sénior.


CURTAS

“VITÓRIA NO DRAGÃO? FOI PENA NÃO TER APOSTADO!”

O Estrela da Amadora regista somente um triunfo extramuros e não deixa de ser curioso que esse resultado tenha acontecido no terreno do Porto, campeão nacional e líder da actual Liga. “Foi o jogo em que, talvez, tínhamos menos probabilidades teóricas de ganhar”, reconhece Marco Paulo, que graceja com a situação: “Foi pena não ter apostado na Betandwin! (risos).”

“GOSTAVA DE TER JOGADO NO RESTELO”
O Belenenses é um clube especial para o médio do Estrela. Dos cinco jogos que falhou até ao momento na Liga, dois foram diante do emblema da ‘Cruz de Cristo’. Uma lesão impediu-o de reencontrar a massa adepta ‘azul’ há duas semanas. “Não fiz nenhum dos jogos contra o Belenenses. Foi um clube que representei durante quatro épocas e do qual guardo boas recordações. Sinceramente, gostava de ter defrontado o Belenenses, no Restelo, por ter alguma ligação com o clube e por tudo o que lá passei”, afirma o ‘camisola 14’ dos amadorenses.

“SATISFEITO COM A CARREIRA”
Além de imprescindível dentro de campo para os técnicos dos clubes que representou, Marco Paulo transpareceu sempre a ideia de ser uma peça importante nos balneários por onde passou. “Também tenho tido esse ‘feed-back’ das pessoas. Sentem que sou um jogador que não complica e que tenta fazer um bom ambiente de trabalho para os clubes terem sucesso”, reconhece o experiente atleta. Sendo uma peça fundamental dentro e fora das quatro linhas, será que o futebolista, que vestiu as camilosas do Estoril (por duas ocasiões), do Paços de Ferreira, do Belenenses e presentemente do Estrela da Amadora, pensa que poderia ter atingido outros patamares? “Temos sempre o sonho de jogar em clubes de maior dimensão, mas estou satisfeito pela carreira que tenho vindo a fazer. Sempre dei o meu máximo e quanto a isso estou de consciência tranquila.”

“GOLFE É UM VÍCIO”
O futebol não é único desporto presente na vida do centrocampista. Uma outra paixão por uma modalidade desportiva surgiu há cerca de quatro anos: “Fui experimentar jogar golfe com o massagista do Belenenses, que já praticava, e com outros colegas. Durante a hora de almoço íamos experimentar para o Estádio Nacional. Esse gosto foi aumentando e tornou-se um vício. Pode dizer-se que o golfe é um vício. Quem experimenta e consegue dar uma boa pancada, a partir daí está completamente ‘agarrado’.” O futebolista, inclusive, já participou em alguns torneios, “apesar de o tempo ser pouco, porque normalmente realizam-se ao fim-de-semana”. Em relação ao golfe, o ‘14 tricolor’ deixa um lamento que diz bem do seu gosto pela modalidade. “Tenho pena de não ter começado mais cedo, porque é um desporto bastante agradável”, finaliza.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá amigo!! fantástica sua entrevista e suas fotos. Vc é um grande jornalista viu!! grande abraço

Bruno Pinto disse...

Pedro, uma bela entrevista, sem dúvida. O Marco Paulo é muito bom jogador, que se manteve sempre no mais alto nível nacional durante anos e anos a fio. Com um pouco mais de sorte poderia ter ido mais longe na sua carreira; muitos jogadores que chegaram aos grandes não lhe chegaram aos calcanhares. Às vezes, tudo depende do aparecimento ou não de uma oportunidade.

Anónimo disse...

É de lamentar ver equipas como o Estrela noutra divisão que não a 1ª.