segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Entrevista - Ricardo Rocha: "Sinto-me mais experiente e preparado para grandes desafios"

Trocou a Luz pelo Tottenham em Janeiro. A recuperar de uma intervenção cirúrgica (artroscopia à tibiotársica direita) que o deixará fora dos relvados por um período entre dois a três meses, o internacional português fala nesta entrevista da realidade que encontrou em Inglaterra, dos objectivos do seu clube, das suas metas pessoais, do Benfica e da sua situação na Selecção Nacional.

Rola a Bola - Chegou ao Tottenham no final de Janeiro. Qual o balanço que faz desta experiência de cerca de nove meses no futebol inglês?
Ricardo Rocha - A experiência tem sido extremamente positiva, porque estou a jogar numa grande equipa e no melhor campeonato do mundo. Sou companheiro de grandes jogadores e tenho ainda a oportunidade de defrontar grandes jogadores das outras equipas.
- Como é o futebol em Inglaterra? Nota muita diferença em relação ao estilo português?
- Sim, e a diferença é grande. O ritmo de jogo é elevado, os jogadores lutam intensamente pela posse da bola e o jogo só acaba quando o árbitro apita, porque até lá tudo pode acontecer.
- Sentiu dificuldades em adaptar-se ao estilo de jogo praticado em Inglaterra?
- Senti dificuldades devido a tudo o que já referi anteriormente. Há pouco tempo para pensar quando estamos na posse da bola, porque a pressão é muito grande; o árbitro deixa sempre jogar, há poucas faltas e depois para os defesas, como é o meu caso, as coisas tornam-se mais difíceis porque os avançados são sempre protegidos pelos árbitros, daí que raramente são marcadas faltas sobre os defesas…
- Hoje é um jogador totalmente adaptado à forma de jogar em Inglaterra?
- Sim, tive que me mentalizar para mudar a minha forma de jogar. Hoje sinto-me completamente à-vontade, principalmente nos factores mais importantes: o jogo aéreo - que é muito solicitado -, a pressão sobre a bola, o contacto físico e ao facto de não haver paragens e de o jogo só acabar mesmo quando o árbitro apita para o final.
- Considera-se agora um melhor jogador do que há um ano?
- Considero-me completamente adaptado ao futebol inglês e ainda há bem pouco tempo tive uma conversa com o treinador-adjunto que me referia isso mesmo. Em relação a ser melhor jogador do que anteriormente, não sei… Sinto-me com mais experiência e preparado para grandes desafios, porque os jogadores em Inglaterra estão constantemente a ser postos à prova contra grandes ‘estrelas’.
- É habitual os estádios ingleses estarem cheios, algo que infelizmente raras vezes acontece em Portugal. Em termos de ambiente, calculo que também as diferenças da Liga Portuguesa para a Inglesa sejam abissais…
- As diferenças são muito, muito grandes. Os estádios estão sempre cheios, os adeptos são incansáveis no apoio às equipas e são eles que, muitas vezes, incentivam as equipas a recuperar de resultados negativos durante um jogo. Para além disso, há muito respeito pelos jogadores, tanto nas vitórias como nas derrotas…
- Fruto da presença maciça de adeptos nas bancadas na Premier League, sente uma maior motivação do que sentia em Portugal antes de começar um jogo?
- A motivação não acontece antes do jogo, mas, sim, quando ele começa. Quando vamos aquecer vemos muito pouca gente nas bancadas, mas quando o jogo começa as bancadas estão completamente cheias de gente a apoiar, a cantar e a aplaudir.
- José Mourinho deixou recentemente o Chelsea e até houve manifestações de adeptos dos ‘blues’ contra a saída do treinador português. Falaram sobre Mourinho no balneário do Tottenham?
- Falámos várias vezes do Mourinho, como grande treinador que é. Sinceramente, acho que ninguém ficou surpreso com o afastamento dele, porque já toda a gente sabia que a relação entre o ‘mister’ e o dono do clube não era a melhor e estava cada vez pior. A única surpresa terá sido o momento, pois ninguém estava à espera que acontecesse tão cedo.

“CONDUZIR À ESQUERDA FOI MAIS FÁCIL DO QUE PENSAVA”


- Os ingleses são apaixonados por futebol. Fora de campo são adeptos ‘chatos’?
- Somos pessoas normais fora de campo e raramente os adeptos nos abordam, algo que em Portugal era normal acontecer.
- A imprensa inglesa é tão ‘assustadora’ como se diz em Portugal?
- Realmente é assustadora nos aspectos negativos, porque lhes dão muito relevo. Infelizmente, há dias passei por algo do género: publicaram uma entrevista comigo que era mentira, pois não falei com nenhum jornalista e fiquei bastante chateado com a situação.
- Adaptou-se bem à nova realidade social que encontrou?
- Foi complicado no início. É tudo diferente: a comida, o tempo, o dia-a-dia… Mas com o apoio da família habituei-me e hoje sinto-me à-vontade.
- Habituou-se facilmente a conduzir à esquerda?
- Foi mais fácil do que pensava. Nos primeiros tempos aluguei um carro para me habituar a conduzir com volante à direita, mas depois comprei um carro com volante à esquerda como em Portugal. Para mim é ainda mais fácil, embora quando venho a Portugal, às vezes, esqueço-me onde estou e cometo uns erros, mas nada de grave!
- Reside em Londres ou fora da cidade?
- Vivo pertíssimo do centro de treinos, que fica a cerca de 40 km do centro de Londres, mas costumo ir lá várias vezes para passear com a minha esposa e os meus filhos.

"O TOTTENHAM SUPEROU AS MINHAS EXPECTATIVAS"



- O Tottenham é como imaginava ou é diferente?
- O Tottenham é um grande clube e superou as minhas expectativas. Teve uma época em que era uma equipa regular no Campeonato, mas, nos últimos anos, fruto de um trabalho ambicioso, tem conseguido grandes resultados e conseguido qualificar-se para as competições europeias. O investimento tem sido feito para tentar chegar ainda mais à frente e conseguir lutar por um lugar na ‘Champions’ ou até, quem sabe, pelo título inglês. No entanto, há ainda muito trabalho pela frente.
- Em Portugal lutava para ser campeão, em Inglaterra isso não acontece. Custou-lhe entrar na mentalidade do novo clube, diferente da do Benfica?
- Não, porque o Tottenham é um clube que luta por títulos, esse é o grande objectivo. Obviamente, o rol de equipas que luta pelo Campeonato é maior e algumas equipas estão uns passos mais à frente, mas o objectivo é sempre chegar o mais longe possível e ganhar algo.
- Sente menos pressão em White Hart Lane do que acontecia na Luz?
- Não. A pressão é sempre imensa, porque o Tottenham é um grande clube, com uma massa adepta muito grande e sedenta de títulos.
- Os ‘Spurs’ acabaram a época passada em alta, conseguindo o quinto lugar. Este ano as coisas não estão a correr bem. O que se passa com o Tottenham?
- Na época passada o objectivo da Taça UEFA foi conseguido, juntamente com o quinto lugar. Este ano o investimento foi alto e as expectativas eram um pouco maiores, visando atingir a Liga dos Campeões. Infelizmente, as coisas não começaram nada bem, perdemos os primeiros jogos, a pressão sobre o treinador começou a ser imensa e, mesmo agora, continuamos abaixo da linha de água. Mas é algo momentâneo, porque vamos conseguir ultrapassar este mau início.
- Segundo a imprensa, o técnico Martin Jol está no ‘fio da navalha’. Essa notícia aumenta a pressão sobre a equipa, prejudicando-a?
- A pressão sobre o treinador é muito grande e quase diariamente apontam nomes para a sua sucessão. Penso que isto tem criado instabilidade, porque a necessidade de vitórias é muito grande. Porém, a meu ver, as responsabilidades são iguais para treinador e para os jogadores. Somos todos culpados por este mau início.
- Repetir a classificação da última temporada na Premier League é ainda possível?
- Penso que ainda é possível, mas temos que, rapidamente, voltar às vitórias e às grandes exibições. Somos uma grande equipa e temos muita qualidade, como já provámos no passado.
- Quais os objectivos da equipa para a presente época?
- Os objectivos são chegar o mais longe possível na Taça da Liga, na Taça de Inglaterra e na Taça UEFA e, se possível, conquistá-las. No Campeonato é lutar por um lugar nas competições europeias, se possível na Liga dos Campeões.

"ESTAR PRESENTE NO EURO NÃO PASSARÁ DE UM SONHO"

- Em termos individuais, quais os objectivos que traçou para 2007/2008?
- Os objectivos são lutar sempre por um lugar e afirmar-me na equipa. É difícil, porque a quantidade e qualidade da concorrência é muito grande, mas vou fazer os possíveis.
- Foi operado há dias e vai ficar ausente dos relvados por um período de dois a três meses. É a paragem mais longa que teve na sua carreira?
- Sim, será a paragem mais longa da minha carreira e, infelizmente, será maior do que previamente se esperava. Mas o importante é que correu tudo bem e quero regressar em grande.
- Apesar deste contratempo, mantém intactas as metas que delineou atingir na presente temporada?
- Completamente. Tenho a confiança dos treinadores e da direcção, e isso é o mais importante.
- À semelhança do que aconteceu no Benfica, tem, por vezes, jogado à esquerda. Esperava desempenhar novamente essa função?
- Sinceramente não esperava, embora tenha sido contratado por fazer qualquer uma das posições na defesa. No entanto, como vários jogadores estavam lesionados, tive que o fazer.
- Desagrada-o fazer o papel de lateral?
- Não gosto tanto de jogar a lateral como a central, mas faço-o sem problemas porque o mais importante é a equipa.
- Ainda não conseguiu fixar-se no ‘onze’ do Tottenham em definitivo, alternando a titularidade com o banco de suplentes. Como explica este facto?
- Tenho jogado muitas vezes, mas não sempre como gostava. A concorrência é muito forte e bem mais jovem do que eu, mas é uma decisão do treinador e tenho que respeitar. O mais importante é que, quando sou chamado, as coisas correm sempre bem.
- Apesar de não actuar sempre, sente-se feliz em White Hart Lane ou está desagradado com Martin Jol?
- Obviamente gostava de jogar mais e eles vêem-me como um jogador com muita experiência. Mas sinto-me bem no Tottenham e é um prazer fazer parte deste grande clube.
- Não voltou a ser chamado à Selecção Nacional depois do desaire na Polónia…
- Fiquei triste por não ser chamado novamente depois dessa derrota, porque foi um jogo mau para todos… Ninguém esteve ao seu melhor nível e, sinceramente, tirando aquele desentendimento com o Costinha no lance do segundo golo, acho que fiz um grande jogo. Mas é apenas a minha opinião.
- Sonha em marcar presença no Europeu, caso Portugal atinja a qualificação, ou considera-se ‘riscado’ por Scolari?
- O meu sonho era estar numa grande competição como o Euro, representando o meu País. Mas, com toda a sinceridade, acho que isso não passará de um sonho. No entanto, independentemente disso, respeito o seleccionador, as suas opções e desejo o melhor para a Selecção e para o meu País.

"REGRESSO A PORTUGAL? O BENFICA SERÁ SEMPRE A MINHA ESCOLHA"


- Continua a acompanhar o Campeonato Português?
- Sim, continuo a acompanhar o Campeonato Português. Tenho TV Cabo portuguesa em Inglaterra, por isso acompanho o Campeonato e tudo o que se passa no País.
- Do que tem visto, qual a sua opinião sobre a Bwin Liga 2007/2008?
- Antes de o Campeonato começar, pensei que este seria um dos mais renhidos e estimulantes, devido ao investimento feito pelas equipas. Mas, infelizmente, o Porto não tem dado hipóteses. O Benfica está ainda numa fase de transição devido à contratação de muitos jogadores e da troca de treinador. O Sporting tem estado bem, mas já perdeu imensos pontos. No resto, penso que o nível de jogo melhorou um pouco.
- A sua antiga equipa, o Benfica, está já a oito pontos do Porto no Campeonato e ocupa o último posto no respectivo grupo na Liga dos Campeões. Pensa que a equipa ainda está a tempo de recuperar os pontos perdidos interna e externamente ou será mais um ano perdido?
- Apesar da distância para o Porto e de ainda não ter conseguido qualquer ponto na ‘Champions’, penso que o Benfica tem mais do que qualidade para conseguir chegar aos seus objectivos: lutar pelo título e chegar à fase seguinte da ‘Champions’.
- Camacho foi seu treinador e agora regressou ao Benfica. Que opinião tem sobre o técnico espanhol?
- Aprendi muito com Camacho e com o seu adjunto Pepe [Carcelen]. Acho que era um regresso que há muito se previa, mas que aconteceu mais cedo do que o previsto. Acima de tudo, é um grande treinador: muito exigente, disciplinador e motivador. Para além disso, sabe o que é o Benfica e o que a massa adepta quer e deseja.
- Pensa um dia regressar ao futebol português?
- Gostava de voltar um dia ao futebol português, mas apenas quando o meu futuro estiver salvaguardado. Em termos fiscais, as coisas não estão fáceis em Portugal, o que pode influenciar muito a qualidade e o futuro do Campeonato.
- Em caso de um eventual regresso a Portugal, o Benfica terá a sua preferência em relação aos demais emblemas?
- Com todo o respeito pelos outros clubes e os seus adeptos, o Benfica será sempre a minha escolha.

Fotos: Hugo Santos

19 comentários:

Anónimo disse...

Excelente blog o seu.Parabéns

http://www.mundo-ultra.blogspot.com/

Tiago Pinto disse...

Pedro só tenho uma coisa a dizer:

isto é verdadeiro e bom jornalismo!

afinal já disse duas...

http://footballdependent.blogspot.com/

Nuno Gonçalo disse...

Desde já os meus parábens Pedro Barata. Tens aqui um trabalho de grande relevo jornalistíco.

Já agora queria desejar muito boa sorte ao Ricardo Rocha, um grande jogador e pessoa. (Que falta fazes no Benfica)

Abraço

Gonçalo
Desportugal

Vitto Vendetta disse...

Muitos parabens pelo blog (soube dele através de um spam colocado em http://gordovaiabaliza.blogspot.com)


Parabens pela entrevista tambem, sendo um jogador que particularmente gosto muito (sendo ele tambem da minha terra, Famalicão)

A entrevista para já está bem conseguida e nota-se alguma cumplicidade e inteligência nas perguntas... muito bem!!

Unknown disse...

Obrigado pela visita ao Mundo da Bola (gdsa.blogspot.com) e em boa hora o fez. Não conhecia o seu blog mas passei por cá e gostei muito da sua entrevista. Parabéns e continuação de bom trabalho.

Mário Ventura disse...

Parabéns pela entrevista, até agora está a superar as minhas expectativas.

Ao contrário da maioria, já conhecia este teu projecto em virtude da Federação de Blogs de Futebol.

Já agora, apenas uma crítica que considero construtiva e que o Vitto Vendetta já mencionou: não seria mais fácil e até elegante enviares e-mails em forma de newsletter do que fazeres «spam» em todos os blogs da FBF?

Cumprimentos, amanhã cá estarei para a segunda parte da entrevista.

Anónimo disse...

Porreiro posso elogiar o Pedro e o Jogador ao memo tempo:
ÉS O MÁIOR

Anónimo disse...

Oi Pedro,
Sabes bem o quanto admiro o Ricardo Rocha pelo que só te posso dar os parabéns pela escola e forma inteligente em que formulaste a tua entrevista.
Só podes mesmo continuar. Deves a ti e a todos os adeptos do desporto!
Jitos

Armando Silva disse...

Excelente entrevista, excelente blog... Digo-lhe mais amigo, li com atenção a sua descrição, no seu perfil..., e penso que é um crime um jornalista como o amigo estar no activo, digo isto não por cortesia, mas pela sua qualidade de escrita, que nota-se à distancia que é de grande qualidade... Continue assim.

www.jornalsodesporto.com/forum

Bruno Pinto disse...

Pedro, parabéns pela excelente entrevista com um grande jogador do futebol português. Grande trabalho que tens feito neste blog, sensacional!
Só não percebo porque ainda não estás no activo em jornalismo. Como é possível??!

Abraço.

Anónimo disse...

Parabens
www.futmania-futemania.blogspot.com

Anónimo disse...

Parabéns pelo Blog! Excelente trabalho!

http://passos9.blogspot.com/

Tiago Pinto disse...

ah grande Ricardo! e não duvides que deixaste a tua marca no enorme clube que é o Benfica.

http://footballdependent.blogspot.com/

Anónimo disse...

Olá amigo Pedro! o Ricardo Rocha é um grande jogador. Creio que merecia estar em um clube de melhor. Parabens pela entrevista amigo, e estou ansioso para ler a última parte. Grande abraço

1234567vv disse...

Interessante:

http://vermelhovzky.blogspot.com/2007/10/mais-uma-vez.html

Abraço,

Vermelhovzky

Anónimo disse...

Parabéns Pedro, mais uma vez.
Adorei a 2ª parte da esntrevista, sabes bem porquê :-D
fizeste a pergunta que interessa a todos os benfiquistas :-D
Bela entrevista...
Espero pela 3ª parte!
Beijo

Anónimo disse...

Também lamento que o Ricardo, como excelente jogador que é, não tenha sido chamado à selecção.
Respeito o Scolari mas não posso deixar de manifestar a minha tristeza. Só espero mesmo que o jogo contra a Polonia não tenha contribuido para esta decisão. se assim for, tinhamos uma selecção sem jogadores, pois ninguem se destacou pela positiva.
Felicidades para o Ricardo e para ti Pedro.

Tiago Pinto disse...

CARTA ABERTA AOS DIRIGENTES DESPORTIVOS:

http://footballdependent.blogspot.com/2007/10/carta-aberta-aos-dirigentes-desportivos.html

Unknown disse...

pedro parabens pela entrevista q ficou mt bem e exatactamente como te enviei. parabens pelo blog e ha mt q mereces uma oortunidade no mundo jornalistico..
um abraço